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domingo, 16 de fevereiro de 2014

XIII,



Todos os Domingos é a mesma coisa. O interface da minha cidade enche-se. Há barulho nos corredores. A azáfama toma conta do ambiente. Os autocarros vão chegando - Porto, Coimbra, Lisboa... - são muitos os destinos. As partidas são quase todas à mesma hora. As bagagens vão-se espalhando pelos terminais. 
Há três anos que faço a mesma viagem aos Domingos. Há três anos que observo quem por ali passa. Lembro-me de quando era miúda de olhar para todas aquelas pessoas e pensar que um dia chegaria a minha vez de partir. E quando esse dia chegou, lembro-me de não ser nada daquilo que eu estava à espera. Não havia ninguém para eu abraçar antes de embarcar, não havia ninguém para me acenar do lado de fora. Dez minutos antes de partir encosto-me sempre ao vidro e acendo um cigarro. E olho à minha volta. Casais apaixonados que se despedem com um beijo ternurento; pais que abraçam os filhos que só querem ir embora; famílias e amigos que choram a partida porque não sabem quando se voltarão a ver. 
Encontro muita gente conhecida. Antigos amigos, pessoas a quem se cumprimenta cordialmente, mas que nunca chegamos realmente a conhecer. A conversa é sempre a mesma: «Temos que combinar um café». Mas o café nunca chega, perderam-se os números de telemóvel e o facebook está cheio de gente que nos é mais próxima. Dá-se sempre a mesma desculpa: « é falta de tempo; estou cheio de trabalho, tenho mil coisas para estudar.» No final, todos viram costas de consciência tranquila. 
Eu costumava ser observada enquanto observada. Pais desses meus amigos que me faziam companhia porque eu estava sempre sozinha.  Por vezes vinham-se as lágrimas aos olhos. Por vezes apetecia-me ter alguém ali, para me dar dois beijinhos antes de entrar no autocarro. Mas na maior parte das vezes não me importava de esperar sozinha. Dava-me tempo para pensar. 
Hoje, pela primeira vez desde o meu regresso, voltei a ficar sozinha. Voltei a observar. E de fones nos ouvidos só conseguia sorrir. 

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