expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Love XV,



Podemos ser protagonistas de uma história de amor? É assim que eu nos vejo por vezes. Gente que segue vidas separadas, que toma diferente rumos, mas que se volta a encontrar no final. 
Faço uma força medonha. E também gosto de pensar que a fazes. Afinal, como é possível que duas bocas que já se conheceram tão bem passem ao lado uma da outra sem se tocarem? Como é que se sentem os lábios quando tocam o rosto frio, sentem a pele macia diante de si, sabendo que tiram muito mais proveito do sabor agridoce que emana de cada beijo apaixonado? 
O engraçado nesta história é que já devíamos ter passado a fase da conquista. Não devia haver aquele receio de avançar para a outra boca quando já lá estivemos. E eu já fui conquistada há muito tempo. 
Quando nos conhecemos, nunca pensei que me apaixonaria por ti. Parecia-me completamente descabida essa ideia de nos apaixonarmos por pessoas que conhecemos numa noite qualquer de festa. Mas aconteceu. E tinha logo de acontecer connosco, não é?
Há certas atitudes tuas que me levam a pensar que não estou maluquinha. Que não estou a perder falácias e se calhar também queres isto. Mas que levas tudo daquele jeito old-fashioned que eu acho extremamente fofo mas que me começa a cansar. Porque querido, por muito que queira, eu não vou estar à espera eternamente. Não me chamo Penélope e não sou capaz de esperar vinte anos pelo amor eterno. Até porque já nem sei se acredito nisso. Se calhar conheceste-me no tempo errado. Se calhar, se nos tivéssemos conhecido antes da minha vida ter dado uma volta de 180º eu ainda teria tempo e paciência para acreditar. Mas já não tenho. Tens-me por um fio, sabes? Um fio que se vai desvanecendo cada vez mais. E quando está quase a quebrar tu voltas a preencher-me o coração. É isso que me mata. Que do nada me deixes as gavetas viradas do avesso. É verdade que eu nunca conheci ninguém como tu. Não que sejas aquela pessoa única e especial, sejamos sinceros, não estou loucamente apaixonada por ti, nem te tenho como o grande amor da minha vida. Mas temos tanto em comum, tantos gostos parecidos, tantos momentos de raiva interior que chegam a ter piada. 
Nas semanas seguintes a isto ter começado, não houve um único dia em que estivéssemos juntos no qual não desflorasse de nós um beijo fogoso. Não houve uma única noite em que não nos procurássemos de entre a multidão, quase como que à espera daquele roçar de rostos. Mas não passava disso. Até porque na altura eu andava metida nas minhas próprias confusões, naquelas aventuras tardias de sedução. E nessa primeira noite daquela semana de euforia eu tinha cometido uma loucura. Tinha sucumbido outra vez ao desejo carnal daquela pessoa da minha vida, tinha-me voltado a entregar àquele desespero, àquela tentação, e sinceramente nem me lembrava de ti. Ele costumava ter esse dom, não fiques sentido comigo. Ele tinha o dom de me fazer esquecer do resto do mundo e de todos os que habitavam nele. E depois de nos despedirmos e de me ter voltado a infiltrar na multidão, vi-te. Aliás, vi uma amiga minha a trazer-te. Fiquei confusa porque não estava à espera que me fosses procurar. Não ali, muito menos naquele estado. E a primeira coisa que fizeste foi procurar-me os lábios gretados pelo frio. Lembro-me de ficar abismada, de te tomar nos braços, de fazermos aquela viagem juntos, os teus braços em volta dos meus, o beijo escondido à despedida. E algumas noites depois, lembro-me do teu aspecto imundo, do cheiro nojento que emanava da tua roupa e de, mesmo assim, eu não te consegui deixar. De me zangar contigo pela primeira vez porque a minha preocupação era demasiada. E foi aí que eu me apercebi. Só me preocupo verdadeiramente com as pessoas de quem gosto. Eu estava preocupada. Assustada. E recuei. 
Depois disso voltei à minha droga. Achei que a melhor solução para aquele problema que se avizinhava era ter uma recaída. Deixar que ele me infiltrasse as veias, me aquecesse o sangue, me fizesse esquecer o coração e tudo o que ele queria deixar transparecer. Não houve despedidas antes do verão. Aliás, a última vez em que estivemos juntos foi tudo menos bonita. Uma troca de palavras árduas, venenosas, tu na tua versão galã e eu com uma raiva imensa a crescer dentro de mim. 
Três meses. Quase três meses sem uma única palavra, uma mensagem, nada. Passaste a tornar-te um clandestino na minha vida e tudo o que eu sabia de ti vinha daquele antro que é o facebook. Esqueci-me de ti, a certa altura. O meu vicio voltou a procurar-me. E na altura nada mais me importava do que aquela fagulha de esperança.  
O pior veio de seguida. Depois de termos voltado à cidade que nos acolheu e tu me procurares para um café. E confesso que foi para mim estranho receber dois beijos teus na face em tom de cumprimento. Aquilo era novo para nós. Durante estes últimos meses estivemos juntos algumas vezes. E de todas elas eu fiquei sempre com a sensação que alguma coisa tinha ficado por dizer. Era como se as nossas acções fossem inacabadas, como nos faltassem as palavras, como se aquelas tardes e noites de corpos embalados na mesma dança, colados um ao outro, fossem jogos sujos de sedução para me testar. 
Foi então que veio aquela noite. Aquela noite em que mais uma vez deixaste que as substâncias falassem por ti. Quando me beijaste eu senti uma imensa onda de calor a esbater-se sobre mim. E percorremos o Porto de mãos dadas. De entre os olhares dos mais curiosos surgiram abraços, toques suaves na cintura um do outro, até mesmo quedas no meio da rua, criando um espectáculo ridiculamente engraçado para os nossos espectadores, mas que foram de uma ternura imensa para mim. Nessa noite estive feliz. Das poucas palavras que te saiam da boca e que eram minimamente perceptíveis, sei que não te lembras de nenhuma. Aliás, a minha maior dor foi mesmo essa. A de te ter aberto as portas de minha casa, te ter despido com cuidado, e te ter dado metade da minha cama; a de me teres abraçado até adormeceres, de me aconchegar no teu peito, e de no dia seguinte me dizeres que não te lembravas de nada. Rigorosamente nada. 
Desde então que voltou tudo ao que tinha sido antes dessa fatídica noite. Uma maré de encontros ao acaso, de onde nunca sai nada mais do que um beijo na face que parece sempre ser pouco. E irrita-me. Esforçar-me tanto por te agradar, fazer de tudo por um bocadinho da tua atenção, tentar fazer-te perceber que estou aqui, que quero mesmo que isto resulte, e tu me atirares com lanças afiadas à garganta. De perder todas as esperanças e tentar tirar-te o protagonismo assumido na minha vida e, quando eu menos espero, me surpreenderes com algum convite, uma aparição inesperada, um café tardio. De te sentares do meu lado e deixares-me encostar a cabeça no teu ombro, só para que a sinta mais pesada quando te vais embora e me deixas sozinha no escuro. De conversarmos sobre passados distantes, de abrirmos o coração um do outro, e de fazeres cara feia quando te digo que não estou sozinha. De me dizeres que queres provar mil rabos de saia e de dizeres que a culpa de não o fazeres é minha, quando eu nunca te pedi nada. Ou de eu me queixar que as minhas amigas têm todas namorado e tu me dizeres que eu só preciso de estar atenta. Que conclusões é suposto eu tirar de tudo isso? É suposto acreditar que vais ganhar os tomates que não tens? 
Podemos criar uma história de amor? Garanto-te que esta não me vai custar a escrever. Porque cada linha que escrevo sobre ti acaba por ser natural. E pode ser que desta vez, só desta, eu consiga acabar este capitulo a bem. De preferência com o meu tão merecido final feliz. 


Sem comentários: